O meio das experiências imersivas nunca esteve tão quente quanto hoje em dia. Alavancadas pelas tecnologias atuais, as exposições que buscam ativar os sentidos para nos transportarem a outros meios, locais e épocas estão cada vez mais convincentes. Isso permite que praticamente infinitas portas se abram para os mais diversos assuntos explorarem a imersão a seu favor, como é o caso, por exemplo, de museus e galerias de arte que a levam para um âmbito de entretenimento e contemplação, e um dos pontos mais importantes e interessantes dentro disso é como essa nova possibilidade de conteúdo pode abrir as portas para o caminho da sensibilização e da conscientização em relação a um tema específico. Afinal de contas, a empatia é um tópico tão atual quanto os ambientes imersivos, e qual o melhor jeito de fazer alguém se sentir na pele ou no lugar do outro do que realmente estando nessa pele ou nesse lugar até que se prove o contrário aos sentidos?
Tendo isso em mente, é possível destacar diversos projetos que souberam se aproveitar das experiências imersivas para gerar verdadeiros momentos de reflexão pessoal. Aqui, será aprofundada mais especificamente a temática da natureza e do meio ambiente, o que pode parecer levar a análise para um ponto contrastante, quase oposto ao futurismo tecnológico associado a esse meio, sendo que o que ocorre na verdade é uma conexão profunda entre estes dois. É importante destacar como o assunto pode e na verdade está sendo bem utilizado e explorado dentro do contexto das experiências de imersão, potencializando a criação de um sentimento de pertencimento ao meio nos seus espectadores e consequentemente engatilhando uma comoção com a temática e seus tópicos afluentes, como por exemplo a preservação ambiental.
Um exemplo que pode ser destacado é o projeto Amazônia, desenvolvido pelo estúdio Super Uber. Consiste em uma experiência voltada para o público infantil de interação e de educação em que são construídos dois cenários por meio de projeções: o da Amazônia e o de uma praia suja. A proposta aqui é conscientizar as crianças por meio da interação com os elementos. No primeiro cenário, é possível fazer contato com diversos animais da floresta, nadar no rio, tocar nas árvores, enquanto no segundo existe mais a ideia de um objetivo específico, que é recolher o lixo da praia e torná-la mais limpa e alegre. Isso possui um grande efeito nas crianças, que se sentem realmente inseridas naquela realidade e aprendem enquanto se divertem.
Outra projeto de experiência imersiva interessante a ser destacado é o Repangeia, desenvolvido em parceria com a Intel, que foi exposto no Museu do Amanhã em 2019. A ideia era proporcionar uma imersão em Realidade Virtual misturando elementos tecnológicos atuais com a ancestralidade dos povos originários e seus rituais, num movimento chamado de Tecnoxamanismo. O cenário é uma realidade apocalíptica causada pelo distanciamento do homem com a natureza, e o usuário dessa experiência se encontra com outras três pessoas com o objetivo de combater essa destruição do ambiente e reinstaurar a ideia de que todos estão interconectados neste planeta, justificando a escolha do nome do projeto.
A estimulação sensorial causando imersão, no entanto, não precisa se dar somente por meio de ambientes, de espaços e salas. Ela pode ser resultado de produtos capazes de gerar experiências e não simplesmente funcionar apenas como meros objetos. É interessante perceber como isso já é explorado há muito tempo e fora do âmbito digital, como é o caso do vídeo abaixo. Nele, um indígena da tribo pataxó apresenta os instrumentos tradicionais de sua aldeia que imitam os sons dos pássaros. Eles eram usados para a caça antigamente, mas passaram a ser apresentados nas escolas a fim de educar as crianças a respeito da preservação ambiental. É um ótimo exemplo não só de como a biodiversidade pode ser adaptada para ser absorvida pelos sentidos mas também de como a experiência sensorial tem grande poder de gerar reflexão, como ocorre com a educação ambiental nesse caso.
Trazendo para o âmbito digital, dois projetos dentro deste último recorte valem também ser destacados. O primeiro deles é o Music From Nature, desenvolvido pela empresa de cosméticos Burt's Bees, que consiste na gravação, mixagem e produção de uma música somente com elementos da natureza como instrumentos: troncos, galhos, frutos, sementes, qualquer coisa de que se possa tirar sons e ritmos. Já o segundo, idealizado pelo músico alemão Bartholomäus Traubeck, é um produto similar a um toca-discos, mas com uma particularidade: ele é capaz de ler, ao invés de discos de vinil, troncos de árvore. Contando com sensores, ele interpreta as cores e as texturas dos anéis do tronco e traduz essas variações em notas musicais tocadas em um piano. Com isso, o músico gravou um álbum inteiro a partir de diferentes tipos de árvores.
As experiências sensoriais não se limitam a um modelo fixo. Na verdade, a quantidade de meios e modos pelos quais elas podem ser exploradas parece crescer exponencialmente, o que é algo maravilhoso e fundamental para que continuem surpreendendo, impactando seus usuários e transformando sua visão de mundo a partir de seus sentidos.
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