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João Pedro Mafra

2. Fugere Praedicto

Atualizado: 23 de out. de 2020

A leitura escolhida para a tarefa foi o capítulo 5 do livro 21 Lições Para o Século 21, de Yuval Noah Harari. Me saltou logo à atenção o assunto abordado neste trecho do livro por esta discussão estar relativamente "fresca" para mim pelo fato de eu ter assistido o famoso documentário O Dilema das Redes há algumas semanas atrás, que trata justamente do modo como as redes sociais são construídas para nos prender nesta falsa realidade digital, criando quase que um alter ego imaterial que consegue ser tão previsível quanto persuasivo em relação a nossos comportamentos e dessa forma utilizados para diversos fins. Eles já se mostraram efetivos, por exemplo, para influência política, como é o caso do escândalo das eleições americanas de 2016 citado no livro, e para venda de produtos, marketing e afins, mas aparentemente pouco se foi feito para incentivar a verdadeira criação de um sentimento comunitário entre os usuários. O efeito, inclusive, parece ser o contrário: uma metamorfose generalizada em que cada um parece ter sido escaneado, perdendo o carnal para o digital.


A desagregação das comunidades humanas e as promessas de pessoas como Zuckerberg de reverter essa separação são respectivamente um problema e uma solução igualmente contemporâneos e urgentes que se estendem para todos os tipos de escala de coletivo. Dentro deste âmbito, vale a pena destacar também passagens de um outro livro que estou consultando para a disciplina de Projeto 6: Design de Culturas Regenerativas, de Daniel Christian Wahl. Ele analisa negativamente, assim como o capítulo 5 do livro aqui trabalhado, o desaparecimento e a desvalorização das comunidades locais que se choca drasticamente com a noção tão prestigiada e promovida pela cultura ocidental atual de uma nação global. Na minha interpretação particular de ambos os textos, a existência dessa nação global não é algo maléfico a ser combatido; é na verdade uma ideia muito bem-vinda, digna de ilustrar o hino "Imagine" de John Lennon. O problema está na supressão dos grupos e das culturas menores em um sentimento equivocado de igualdade que não dá o devido valor à diferença. Daniel Wahl traz a análise para um lado mais ambientalista e sustentável e cita como a vida no planeta se sustenta graças à biodiversidade e aos ecossistemas e ciclos tão discrepantes entre si que se interconectam, de modo que o que realmente deveria ser respeitado é justamente a igualdade entre a diferença. Trazendo essa ideia para o âmbito social, ele destaca como as pequenas comunidades e os grupos tradicionais, como os indígenas, não podem cair no esquecimento em relação a escalas maiores de coletivo, relacionando-se assim com a fala de Harari quando este afirma a importância de um grupo menor, porém mais próximo fisicamente, de contatos interpessoais.


O design de mídia digital é, a meu ver, não só a área criativa mais aproximada do meio abordado nesta postagem por motivos claros de afinidade de tema, mas ele também se apresenta como o caminho mais proeminente no sentido de aumentar o campo de visão para que não se caia em armadilhas que vão agravar e perpetuar o problema ao invés de neutralizá-lo. Essas armadilhas se dão justamente pelo fato de o meio de trabalho, atuação e aplicação do desenvolvimento dos projetos ser o mesmo a criar os problemas e quadros que se visa mudar, e, dessa forma, é necessário cautela para não permitir que o objeto desenvolvido se torne mais atraente do que o objetivo a ser alcançado por ele. A resposta para esse dilema não se encontra tão distante: trata-se de um jogo de dupla observação. Citando novamente Daniel Wahl, isso se dá com a análise de como os povos indígenas observam a natureza e nela se inspiram e a imitam para sua solução de problemas. Tendo isso em vista, o designer pode enxergar saídas simplesmente ao parar e observar a natureza, que à primeira vista parece tão afastada se comparada ao meio digital. Percebe-se nela, por exemplo, a existência dos diversos e diferentes ciclos já citados anteriormente que se sustentam e relacionam, e traçando o paralelo com a questão social, torna-se visível como é importante respeitar e preservar as comunidades humanas e como é prejudicial a perda da humanidade através da tela. Felizmente, apesar de todo o aparente progresso ao qual é atribuído o mundo digital, não conseguimos ainda deixar de pensar como seres pertencentes à esta força maior que é a natureza: pensar como ela é o mínimo e o máximo que podemos fazer.



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